A literatura sul americana merece ser descoberta! Hoje, comento o livro que me introduziu no universo literário de nossos vizinhos... E alguns dos contos que mais me impressionaram.
Horacio Quiroga
nasceu no Uruguai em 1878, mas passou grande parte da vida na Argentina, por
isso sua obra é importante para ambos os países. Desde sempre a Morte foi uma
presença constante: o pai, o padrasto e a primeira esposa cometeram suicídio;
em 1902 matou acidentalmente seu melhor amigo. Sua obra de maior popularidade
é, sem dúvida, "Contos de Amor, de Loucura e de Morte", publicado em
1917, uma reunião de contos publicados ao longo de sua vida em revistas
argentinas. Admirador de Baudelaire e de Poe, alguns críticos veem semelhanças
entre este último e o uruguaio, mas o que difere os dois é o universo de suas
obras.
Enquanto que em Poe, a Morte é quase um delírio de
uma mente excitada (como no conto "Ligeia"), em Quiroga, ela é
realidade, é consciente e se utiliza de meios reais, quase sempre físicas, sendo
por vezes cruel, como no conto "O Solitário", centrado no joalheiro
Kassim e sua esposa obcecada por joias. “Uma Estação de Amor” pode enganar o
leitor com o idílio de Octávio e Lídia, mas a ação verdadeira vem da presença
fúnebre da mãe da moça, causada por uma overdose de morfina. A habilidade do
autor de revelar o sombrio mesmo em situações corriqueiras prende a atenção, e
a cada conto o suspense é assustador. É como um filme, onde o clímax é
construído desde as primeiras linhas, o leitor sabe que algo acontecerá, mas
não como. E é esse “como” o grande ás de do autor – um exemplo disso é o conto “O
Travesseiro de Plumas”. Horror puro.
O autor, Horacio Quiroga. |
A escrita de
Quiroga é rápida e crua, não se estende em descrições e a ação corre numa
naturalidade que espanta, como em "A Galinha Degolada", seu conto
mais famoso. O enredo é angustiante, mas deixa espaço para um sentimento de
revolta contra os personagens – no caso, os pais dos garotos, um casal egoísta
que trata a filha “normal” com todos os mimos enquanto que os quatro meninos
ditos “deficientes” ficam ao deus-dará, sentados ao pé do muro do quintal da
residência. O leitor espera a tragédia a cada parágrafo e sabe que ela chegará
pelas mãos das quatro crianças, como de fato acontece e de um jeito
impressionante. Mesmo que não descreva muito os ambientes dos contos, o
escritor uruguaio é intensamente visual, pois é fácil para o leitor imaginar os
personagens interagindo uns com os outros, até o ato final.
Horacio Quiroga morreu em 1937, e assim como seu
pai, padrasto e a primeira esposa, cometeu suicídio – descobrira que sofria de
câncer já em estágio muito avançado. Não querendo prolongar o sofrimento,
ingeriu cianureto. Sua vida e sua morte, com tantos altos e baixos, luz e
sombra, se parecem com seus contos, assim como a de sua família: anos mais
tarde, seus três filhos também seguiram pelo mesmo caminho.
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