quinta-feira, 30 de outubro de 2014

OUTROS ESCRITOS – OPINIÃO: "Brasil! Mostra a tua cara..." As músicas dos anos 1980 e as eleições

Você já se deu conta de que as músicas dos anos 1980 AINDA são atuais? E nunca se perguntou o porquê?




Passado todo o bafafá das eleições, resolvi finalmente escrever o que evitei por todo o período que passei sem fazê-lo: sobre eleições. Não o resultado propriamente dito, inteiramente democrático, mas sobre um fato que lotou minhas linhas do tempo nas redes sociais nos últimos dois meses – as citações de letras de música, a maioria de autoria de Cazuza e Renato Russo. Detalhe: as músicas em questão, principalmente as de Cazuza, foram lançadas na década de 1980, quando a maioria de muitos jovens ainda eram metade espermatozóide e metade óvulo. Citações essas, muitas vezes transmutadas em aforismos, que se revelam atuais mesmo depois de gravadas há mais de trinta anos.

Veja só: são músicas que revelavam um Brasil que muitos não queriam ver, lançadas num período de transição entre a ditadura militar e a democrática “Nova República”, enumerando os inúmeros problemas que o país vivia na época. Interessante notar que passado tantas décadas, chamar de “atuais” versos como “Brasil! Mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim” mostra que NÃO há muita DIFERENÇA entre o passado e o presente de nossa História. AINDA se reclamam dos juros, da inflação, da corrupção política e social do país. Quando eu vejo um adolescente de 16 anos postar no Twitter que Renato Russo era um profeta das mazelas do Brasil – sendo que o cantor morreu em 1996 – fico pensando se ele não é um alienado ou simplesmente demonstra uma completa desatenção ou desinteresse pela História Brasileira, afinal de contas, quando Renato escreveu “Que País é Este?”, o contexto histórico da época revelava um país de planos econômicos sucessivos, hiperinflação, overnight, massacre de indígenas, Comando Vermelho e por aí vai. Se as músicas da década de 1980 ainda são tão atuais assim, as pessoas que as citam nas redes sociais, ao invés de protestar, apenas propagam um Brasil que PERMANECE desde aquela época. Em outras palavras, mostra um Brasil que não mudou, mesmo depois de completados vinte e cinco anos da primeira eleição direta para presidente do país.

Apesar da feia mania do povo de querer tirar o corpo fora e jogar a responsabilidade em terceiros, quando ouço “Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades” de “O Tempo Não Para”, de Cazuza, eu vejo o quão certo ele estava em dizer que o que estava por vir era o mesmo que já se havia vivido. Ou seja, a mesma revolta que nos consome hoje é a mesma que consumia os autores das músicas cujos versos são tão citados na internet. Sendo ainda mais clara, amigos, é aquela circunstância do “contra fatos não há argumentos”: a responsabilidade pelo estado atual do nosso Brasil não é SOMENTE daqueles que nos representam no Congresso Nacional, é de TODA a população – seja de direita ou esquerda, norte ou sul, ninguém escapa do papel que lhes cabe no processo. Se vivemos num país democrático, porque a responsabilidade também não o é? Afinal, se tais músicas parecem ter sido lançadas recentemente, significa que o próprio povo é quem responde pela manutenção da situação em que se encontra o país... 

A piscina, realmente, nunca se livrou dos ratos. 

Um comentário:

  1. Só passei para desejar um ano novo cheio de boas realizações e grandes sonhos para os próximos

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